Escola Agrotécnica

É essencial compreender a gênese e o desenvolvimento da antiga Escola Agrotécnica Federal de Rio do Sul, a qual deu origem ao Instituto Federal Catarinense – campus Rio do Sul (IFC Rio do Sul), situando-a no contexto do Alto Vale do Itajaí, a partir de alguns elementos que caracterizam historicamente, economicamente e socialmente a região, de modo a apresentar maior proximidade com a realidade e compreender os fatores determinantes dos modos de produção, da cultura da população e do surgimento da própria instituição.

O município de Rio do Sul está situado no Alto Vale do Itajaí, região composta por 28 municípios, entre a Serra do Mar e a Serra Geral, entrecortado pelos rios Itajaí do Sul e Oeste cuja convergência dá origem ao grande Itajaí-Açú que se perfila ao longo das cidades do Vale do Itajaí (AMAVI, 2019).

Antes da chegada de europeus, o território de Santa Catarina já se encontrava ocupado por comunidades nativas, sendo a população indígena numerosa. Os principais grupos eram os Xokleng, Kaingang e Guarani, sendo que os Xokleng viviam por todo o sul do Brasil e em Santa Catarina circulavam entre o litoral e o planalto, ao longo do Rio Itajaí-Açú e seus afluentes (DAGNONI e WARTA, 2016).

Foto: Índios Xokleng vítimas de bugreiros.

Os contatos estabelecidos mediante o processo de concessão de terras aos imigrantes não foram amistosos e acabaram provocando a destribalização e o extermínio de grande parte da população nativa e também de imigrantes (NÖTZOLD e VIEIRA, 1999, p.21).

Durante o século XIX através da fundação da colônia de São Pedro de Alcântara em 1829, tem-se uma estratégia para dar apoio ao Império brasileiro, inaugurado com a Independência proclamada em 1822.

Para Dagnoni e Wartha (2016), ao governo interessava o apoio a um sistema socioeconômico baseado em pequenas propriedades rurais, em que os proprietários livres cultivassem as terras com auxílios de suas famílias sem interesse no trabalho escravo e na cultura de gado, que caracterizava os latifúndios luso-brasileiros em Santa Catarina, tanto em Lages como ao longo do litoral. Com a carência de rios navegáveis para escoamento da produção da colônia de São Pedro de Alcântara, seus moradores em boa parte passaram a povoar as terras do baixo e médio Vale do Itajaí. Entretanto, para penetrar no interior, recoberto pela Mata Atlântica, era necessário seguir o curso dos rios das nascentes no planalto até a foz, e se instalar nos vales. Isto que caracterizou a colonização na região do Itajaí (Santa Catarina), onde em 1845 teve início a fundação da colônia belga em Ilhota, em 1850 a fundação da colônia Blumenau, em 1851 a fundação da colônia Dona Francisca (Joinville) e em 1860 a fundação da colônia Brusque.

Com o desenvolvimento da colônia Blumenau surgiu a necessidade de comunicação com o planalto e em 1863, através das primeiras expedições do engenheiro Emil Odebrecht, tem início a abertura da estrada que ligava Blumenau a Curitibanos, a mando do Dr. Hermann Blumenau.

Em 1874 o primeiro imigrante alemão Francisco Frankenberger tornou-se o primeiro colono vindo de Blumenau a fixar-se onde atualmente é Rio do Sul, iniciando sua colônia “Südarm” (Braço do Sul) às margens do rio.

Foto: Francisco Frankenberger e família.

Para facilitar a comunicação, em 1890 Dr. Hermann Blumenau mandou construir uma balsa para travessia do Rio Itajaí do Sul em Braço do Sul, a fim de evitar a longa espera dos tropeiros pelo período de estiagem para sua travessia, bem como evitar que pedestres e animais fossem impedidos de atravessar o rio.

A prefeitura de Blumenau indicou então, para o trabalho de balseiro por volta de 1892, o Sr. Basílio Correa de Negredo (1823-1907), natural de Nova Trento (SC) e que tornou-se um dos primeiros moradores a se estabelecer em Rio do Sul.

Foto: Basílio Correa de Negredo.

Neste contexto, o Rio Itajaí-Açú desempenhou papel importante na fixação de colonizadores o que também caracterizou o surgimento do município de Rio do Sul, o qual está associado a tentativa de integração das povoações do litoral com os núcleos populacionais da região serrana (DAGNONI e WARTA, 2016).

Foto: Braço do Sul.

Mediante a concessão de terras intensifica-se o número de colonos no Alto Vale, os quais mantinham inicialmente como principal atividade econômica a agricultura. Para Tomasini e Hoerhn (1999), o desenvolvimento do setor agrícola era possibilitado pela excelente qualidade de seu solo para lavouras. Logo desenvolveram-se outras atividades, especialmente o comércio de compra e venda dos excedentes agrícolas e abastecimento da população com gêneros de primeira necessidade (COLAÇO e KLANOVICZ, 1999).

Em 1912, Braço do Sul passou a chamar-se Bella Alliança, V Distrito de Blumenau, destacando-se frente aos demais núcleos do Alto Vale do Itajaí devido sua posição geográfica privilegiada, localizada no entroncamento das rodovias desenvolvendo intenso comércio de produtos extraídos da área rural, enquanto a indústria emergia.

No final da década de 1920, a intensidade das atividades econômicas elevaram o patamar político, econômico e social, desencadeando a construção da Estrada de Ferro a partir de 1929, permitindo a exploração de novas fontes de economia, como foi o caso da madeira, contribuindo para a cidade se desenvolver como eixo prestador de serviços regionais.

Fotos: Rio do Sul antigamente.

Surgia assim, a possibilidade da instalação de um município, sendo este processo de independência local tratado pelo parlamentar Ermembergo Pellizzetti, culminando na criação do Município e da Comarca de Rio do Sul desmembrados de Blumenau em 10 de outubro de 1930 através da Lei Estadual n.º 1.708, sendo que sua instalação ocorreu em 15 de abril de 1931 (SAUL, 1999).

Foto: Emancipação política de Rio do Sul em 1931.

Interessa destacar, que “na década de 1920 pessoas influentes na política do Estado e residentes no local, preocuparam-se com a modernização das técnicas agrícolas, visando uma maior produtividade com melhor qualidade na produção” (TOMASINI e HOERHNN, 1999, p. 153). A título de exemplo, podemos citar Ermembergo Pellizzetti (1873-1947), que criou as Domingueiras Agrícolas, o Banco de Crédito Popular e Agrícola Bella Alliança, a Revista Agrícola Catharinense e a Escola Agrícola de Ascurra. As Domingueiras Agrícolas tratavam-se de reuniões de agricultores para debater as melhores formas de produção. Segundo Tomasini e Hoerhnn (1999), Ermembergo Pellizetti que fora deputado estadual em duas legislaturas (1925 a 1927 e 1928 a 1930) foi também presidente do Banco de Crédito Popular e Agrícola de Bella Alliança (primeiro e único presidente do banco por ele criado). O banco realizava empréstimos a empreendedores e com isso aumentava as rendas, fazendo girar e crescer novos capitais a cada dia, tornando-se um dos responsáveis pelo crescimento econômico do futuro município. Posteriormente, a instituição bancária foi incorporada ao banco INCO (Indústria e Comércio) em 15 de janeiro de 1936 e ao Bradesco no ano de 1968. Pellizzetti também destacou-se ao colocar em circulação em 1928 o informativo Revista Agrícola Catharinense, voltado aos agricultores e comunidades do Alto Vale do Itajaí com objetivo de difundir informações sobre a seleção de sementes, evolução tecnológica dos equipamentos e dos produtos e dos meios mais eficazes de irrigação, e em 1929, por idealizar e criar a Escola Agrícola de Ascurra, que tinha por missão difundir através do curso profissional os preceitos e as práticas mais úteis à agricultura por meio de lições teóricas e práticas.

Embora tenha participado da vida administrativa do município em seus primeiros tempos, Pellizzetti sai de cena após a Revolução de 1930, isolando-se e mantendo-se coerente com seu posicionamento político “pois era uma pessoa influente na política riosulense apresentando ideais contrários do novo governo getulista” (TOMASINI e HOERHNN, 1999, p.157).

Já na década de 1940 registrava-se significativo crescimento urbano decorrente da expansão da atividade industrial e comercial e na transição para os anos 50, busca-se a modernização da cidade através de construções e atitudes que transformassem visualmente a cidade (colocação de luminosos, denominação de ruas, numeração de casas, delimitação dos bairros, etc.).

Até a década de 1950 a maior parte da população ainda vivia no meio rural, embora fosse significativa a concentração populacional na cidade.

As décadas de 1950 e 1960 marcaram um período de grande número de edificações no centro (igrejas, hospitais, residências, bancos, colégios, comércios) apontado a consolidação da cidade como polo regional e mostrando através da distribuição espacial da cidade seu comportamento como centro urbano, ao mesmo tempo em que findava-se o ciclo da madeira acarretando uma forte crise econômica.

Fotos: Rio do Sul nas décadas de 1950 a 1970.

Em substituição à madeira, principal fonte de renda do município até então, emergia uma adequação da economia para um novo ramo de produção.

Fotos: Rio do Sul nas décadas de 1950 a 1970.

Para Tavares (2014), a substituição da agricultura e da extração madeireira por uma economia baseada na indústria, alterou o modo como os habitantes do Alto Vale do Itajaí passaram a produzir a sua própria existência, reconfigurando não só a distribuição espacial da população, bem como novas e maiores demandas no âmbito da educação.

Fotos: Rio do Sul nas décadas de 1950 a 1970.

Portanto, é neste contexto que tem início os primeiros movimentos com vistas à criação da Escola Agrotécnica Federal de Rio do Sul (EAFRS).

Referências bibliográficas:

  1. AMAVI. Associação dos Municípios do Alto Vale do Itajaí. Perfis municipais: Rio do Sul. Disponível em: https://www.amavi.org.br/municipios-associados/perfil/rio-do-sul
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