É no início da década de 1970 que tem-se a primeira notícia que trata da criação da Escola Agrotécnica Federal de Rio do Sul (EAFRS), através de um trabalho de pesquisa no curso de graduação em Administração de Empresas da Fundação Educacional do Alto Vale do Itajaí (FEDAVI), atual Centro Universitário para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí (UNIDAVI). O trabalho “sugeria a criação de uma Escola Agrícola para fornecer alternativas profissionais aos jovens do meio rural e a consequente elevação do nível tecnológico da produção agropecuária” (KOLLER, 2003, p.10). Ou seja, a gênese da Escola Agrotécnica Federal de Rio do Sul está vinculada a tentativa de conter o êxodo rural identificado na década de 1970 nos pequenos municípios com características essencialmente agrícolas situados na região do Alto Vale do Itajaí.
Neste período há um considerável aumento no número de indústrias e estabelecimentos comerciais na cidade de Rio do Sul, com destaque para o ramo da metalurgia, madeira e artigos de vestuário (TOMASINI e HOERHNN, 1999).
Sob liderança da FEDAVI e com apoio da Associação dos Municípios do Alto Vale do Itajaí (AMAVI), Prefeitura de Rio do Sul, Cooperativa Regional Agropecuária Vale do Itajaí (CRAVIL) e do Líder Ruralista, Cooperativista e Deputado Federal Sr. Ivo Vanderlinde, iniciou-se a mobilização política para a construção de uma Escola Agrícola Federal na região. Constituiu-se assim, em 1972, uma Comissão Pró-Construção da Escola Agrotécnica do Alto Vale do Itajaí, sob a presidência do Diretor da FEDAVI na época, o professor Viegand Eger.
O marco inicial para a construção da Escola Agrotécnica Federal de Rio do Sul, deu-se no mesmo ano, com a entrega de um documento ao Presidente da República Emílio Garrastazu Médici (KOLLER, 2003).
Foto: Entrega do estudo de viabilidade e reivindicação de uma Escola Agrotécnica para o Alto Vale.
Segundo Ayukawa (2005), em 1986 o Ministro da Educação Jorge Bornhausen aprovou a construção da Escola Agrotécnica, sob a condição de que as autoridades locais e a sociedade do Alto Vale do Itajaí assumissem a responsabilidade pela arrecadação de capital para a aquisição do terreno onde seriam instaladas as edificações. Colaboraram nesta campanha 147 doadores entre instituições públicas e empresas privadas e a área escolhida correspondia a 192 hectares, localizada na Serra Canoas no município de Rio do Sul.
Em julho de 1988, o jornal local Nova Era anunciava a vinda do então Ministro da Educação, Hugo Napoleão para Rio do Sul.
Foto: Página do Jornal Nova Era de 03 de julho de 1988.
A previsão de Ivo Vanderlinde, deputado autor do projeto de lei que criou a Escola Agrotécnica, era de que o Ministro da Educação estaria em Rio do Sul no dia 25 de julho para o lançamento da pedra fundamental.
Antecipadamente, no dia 22 de julho de 1988, o Ministro da Educação Senador Hugo Napoleão vem a Rio do Sul para participar do lançamento da pedra fundamental da Escola Agrotécnica Federal de Rio do Sul, em evento com a presença dos idealizadores da Escola Agrotécnica e lideranças políticas do Alto Vale do Itajaí. Nesse mesmo evento, foi assinado o convênio para edificação da Escola.
A edição de 31 de julho de 1988 do Jornal Nova Era registrava a solenidade na qual o Senador fez a entrega da primeira parcela para a construção da EAFRS, no valor de 100 milhões de cruzados.
Contudo, somente em setembro de 1989 tiveram início as obras da Escola Agrotécnica Federal de Rio do Sul.
A criação da EAFRS passou por dificuldades que desencadearam uma série de contingenciamentos de recursos financeiros, implicando diretamente na execução das obras. Tal situação foi divulgada por diversas vezes pela imprensa catarinense.
Foto: Jornal Nova Era de 05 de novembro de 1994.
O governo federal aplicou 8 milhões de dólares na construção da EAFRS. A FEDAVI era responsável pela coordenação da edificação junto à empreiteira, sendo que após a conclusão da obra, a coordenação foi assumida pela Escola Técnica Federal de Santa Catarina.
Somente 21 anos após a entrega do documento ao Presidente da República Emílio Garrastazu Médici, em 30 de junho 1993 através da Lei Federal n.o 8.670 é criada a Escola Agrotécnica Federal de Rio do Sul vinculada à Secretaria de Educação Média e Tecnológica, fazendo parte do Sistema Nacional de Educação Tecnológica do Ministério da Educação (AYUKAWA, 2005).
No ano seguinte, em 06 de julho de 1994, por meio da Portaria Ministerial nº 1.006, foi nomeado o Professor Paulo Antônio Silveira de Souza para exercer o cargo de Diretor Geral Pró-Tempore da Escola, além de ser realizado o primeiro concurso público da EAFRS.
Em seguida, no dia 17 de dezembro de 1994 a EAFRS foi inaugurada pelo Ministro da Educação e do Desporto, Professor Murílio de Avellar Hingel, situada na Serra Canoas, possuindo aproximadamente 13.000m2 de área construída, 192 hectares de área, 30 professores e 45 servidores técnicos administrativos (KOLLER, 2003).
Em janeiro de 1995 os primeiros servidores concursados tomaram posse, entretanto somente em 05 de junho de 1995 é que iniciaram as atividades letivas de Ensino Técnico em Nível Médio com oferta de 120 vagas no curso de Técnico Agrícola com Habilitação em Agropecuária. Toda a estrutura organizacional e pedagógica esteve assentada no modelo Sistema Escola-fazenda (SEF), apresentada como a solução para o ensino agrícola, utilizando o modelo tecnológico de produção agropecuária remanescente da década de 1970 voltado à difusão das tecnologias da Revolução Verde.
De acordo com registros da imprensa, o atraso no início das atividades letivas foi em decorrência da demora do Ministério da Educação e do Desporto em liberar a primeira parcela do orçamento para a compra dos equipamentos necessários para o funcionamento da cozinha, lavanderia, mobília para as salas de aula e de equipamentos para os laboratórios.
Em 1995 a Escola divulgava a lista de aprovados para ingresso no ano de 1996 no curso de Técnico Agrícola com habilitação de Agropecuária, a nível de 2º grau.
Em 1998, além da criação do curso Técnico Florestal, a EAFRS adquiriu na Serra Canoas uma fazenda com 84 hectares para o desenvolvimento de culturas anuais, gado de corte e reflorestamento.
No mesmo ano, graduou-se a primeira turma da Escola Agrotécnica Federal de Rio do Sul, obtendo destaque na edição do Jornal Nova Era de 06 de janeiro de 1998:
Durante toda a década de 1990, notícias estampavam os jornais da região do Alto Vale do Itajaí destacando situações e atividades envolvendo a EAFRS:
Em 2000, todos os cursos da EAFRS foram reformulados atendendo as alterações dadas pela LDB/96 e pelo Decreto 2.208/97. Iniciou-se uma turma de Técnico Agrícola com Habilitação em Agropecuária no sistema pós-médio e concomitante, e também, os primeiros passos para a criação de novos cursos.
Em 2002, através de uma comissão para estudo da viabilidade de novos cursos, define-se a criação do curso Técnico em Agroecologia concomitante ao ensino médio, com início das atividades em 2003 (AYUKAWA, 2005; TAVARES, 2014).
Sob a vigência do Decreto 5.154/2004 e do Decreto 5.840/2006 que instituía o Programa Nacional de Integração da Educação Profissional à Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA), a EAFRS iniciou a primeira turma de Técnico em Agropecuária integrado ao ensino médio na referida modalidade no ano de 2006, mas devido ao número reduzido de candidatos nos anos subsequentes, não foram iniciadas novas turmas (MARCONATTO, 2009; TAVARES, 2014).
Segundo Tavares (2014), em 2008 os cursos de Técnico em Informática subsequente ao ensino médio são criados em resposta a um processo de diversificação das áreas de oferta, o que já vinha sendo cobrado pela sociedade. E no âmbito do ensino superior, o primeiro curso ofertado foi o Tecnólogo em Horticultura, o qual, por baixa demanda não chegou a constituir novas turmas.
Durante os 14 anos de atividades letivas da EAFRS, foram ofertadas ao todo 2.490 matrículas, sendo 1.400 na modalidade concomitante ao ensino médio, 500 na modalidade técnico integrado ao ensino médio, 490 na modalidade subsequente ao ensino médio, 40 na modalidade concomitante ao ensino médio, porém oferecido em instituição externa/parceria, 25 na modalidade PROEJA e 35 no curso superior tecnólogo.
Ainda em 2008, a EAFRS assume um novo formato institucional dado pela Lei 11.892 de 29 de dezembro de 2008, que institui a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, criando então os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia.
Referências bibliográficas:
- AMAVI. Associação dos Municípios do Alto Vale do Itajaí. Perfis municipais: Rio do Sul. Disponível em: https://www.amavi.org.br/municipios-associados/perfil/rio-do-sul
- AYUKAWA, M.L. Limites e possibilidades do ensino de agroecologia: um estudo de caso sobre o currículo do curso técnico agrícola da Escola Agrotécnica Federal de Rio do Sul/SC. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Rural). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/7619
- BRASIL. Decreto nº 5.154 de 23 de julho de 2004. Regulamenta o § 2º do art. 36 e os arts. 39 a 41 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5154.htm
- BRASIL. Decreto nº 5.840 de 13 de julho de 2006. Institui, no âmbito federal, o Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – PROEJA, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Decreto/D5840.htm
- BRASIL. Lei nº 11.892 de 29 de dezembro de 2008. Institui a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11892.htm
- HOELLER, S. A. O.; PERCIACK, M. C.; BITENCOURT, A. C.; OLIVEIRA, F. P. Z. Aspectos da trajetória histórica do Campus Rio do Sul: de Escola Agrotécnica a Instituto Federal Catarinense (1995-2015), 2015 (Artigo e Relatório de Projeto de Extensão). Disponível em: http://eventos.ifc.edu.br/micti/wp-content/uploads/sites/5/2015/10/ASPECTOS-DA-TRAJET%C3%93RIA-HIST%C3%93RICA-DO-CAMPUS-RIO-DO-SUL-DE-ESCOLA-AGROTECNICA-A-INSTITUTO-FEDERAL-CATARINENSE-1995-2015.pdf
- KOLLER, C. A. A perspectiva histórica da criação da Escola Agrotécnica Federal de Rio do Sul e a sua relação com o modelo agrícola convencional. Dissertação apresentada no Programa de Pós-graduação em Agroecossistemas, Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Santa Catarina, 2003. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/84913
- MARCONATTO, L.J. Evasão escolar no curso técnico agrícola na modalidade de EJA da Escola Agrotécnica Federal de Rio do Sul-SC. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em Educação Agrícola, 2009. Disponível em: https://tede.ufrrj.br/jspui/handle/tede/151
- TAVARES, M. G. A constituição e a implantação dos Institutos Federais no contexto da expansão do ensino superior no Brasil: o caso do IFC – campus Rio do Sul, 2014. 315f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Estadual de Ponta Grossa, 2014. Disponível em: https://tede2.uepg.br/jspui/handle/prefix/1167
- TOMASINI, D.; HOERHNN, R.C.L.S. Atividades econômicas. In: Rio do Sul: uma história. João Klug, Valberto Dirksen, org. Rio do Sul: Ed. da UFSC, 1999.